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Negociações “muito difíceis” entre Moçambique e FMI
Negociações “muito difíceis” entre Moçambique e FMI

Um dos factores que tornará difíceis as negociações entre Maputo e aquela instituição financeira internacional da Bretton Woods prende-se com o facto de o pouco convincente relatório da Kroll sobre as chamadas “dívidas escondidas”
A embaixadora da Noruega em Maputo, Anne Lene Dale, afirma que as negociações em curso entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Governo moçambicano serão “muito difíceis”, ao contrário do que muitos possam imaginar.
“Eu acho que as negociações de Moçambique e o FMI serão muito difíceis. O FMI vai exigir a reforma das estruturas do Estado, um factor importante para clarificar a relação entre o Estado e o sector privado”, anteviu a diplomata, acrescentando que o processo negocial entre as partes será crucial para outros doadores, especialmente sobre a questão do apoio orçamental.
Sublinhando que o seu país (Noruega) vai continuar a manter contacto próximo com outros doadores para discutir a implementação do relatório da Kroll sobre as dívidas da EMATUM, Proindicus e Mozambique Asset Management (MAM), avaliadas em dois biliões de dólares norte-americanos.
Refira-se que o frente-a-frente entre o Executivo de Filipe Nyusi e o FMI tem a desfecho previsto para esta quarta-feira (19 de Julho).
Um dos factores que tornará difíceis as negociações entre Maputo e aquela instituição financeira internacional da Bretton Woods prende-se com o facto de o pouco convincente relatório da Kroll sobre as chamadas “dívidas escondidas” ter constatado que tantos outros biliões de dólares norte-americanos também em empréstimos terão desaparecido, mas ainda pior é que o assunto é mantido em segredo.
Segundo consta da conclusão do resumo de 57 páginas do relatório Kroll sobre o maior escândalo financeiro da história de Moçambique, aponta que os empréstimos ilegais contraídos no último mandato do Governo de Armando Guebuza (2009 a 2014) constituem 20% dos empréstimos totais do país, que está actualmente em mais de 110% do Produto Interno Bruto (PIB).
A auditoria internacional independente foi uma das premissas do Fundo Monetário Internacional para retomar a cooperação com o Governo de Moçambique.
O mesmo aplica-se aos outros doadores que congelaram o seu apoio directo ao Orçamento do Estado (OE) moçambicano desde Abril de 2016, na sequência do boom do escândalo da dívida pública do país.
Porém, Helge Ronning, professor e especialista em media da Universidade de Oslo, na Noruega, entende que a auditoria conduzida pela Kroll não será suficiente para convencer os doadores, uma vez que não conseguiu recolher uma série de informações-chave.
Ronning, que já teve passagens por Moçambique entre 1996 e 1998 e 2004/6, refere que o relatório da Kroll é “perturbador”, pois não entende como uma das empresas mais capazes e mais reputadas no ramo da auditoria não conseguiu chegar ao fundo de quem fez o quê? e o que efectivamente foi feito com o dinheiro?
“Nyusi não vai arriscar”
Por seu turno, o director do Centro de Integridade Pública (CIP), Adriano Nuvunga, acredita que o actual Presidente, Filipe Nyusi, “não vai arriscar muito” na perseguição aos responsáveis destes mega-empréstimos, mesmo que tenha publicamente prometido à comunidade internacional que ia fazê-lo.
Para Nuvunga, poderá pesar o facto de o estadista moçambicano ser um dos presumíveis implicados no escândalo, uma vez que ele (Nyusi) era ministro da Defesa (departamento usado para a operação) quando os empréstimos secretos foram realizados, e ainda não está claro qual o papel que ele desempenhou no caso.
edson arante
CM – 17.07.2017
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