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Desenvolvi uma úlcera assistindo a Uma linda mulher
Ah, Uma linda mulher. Todo mundo que tem televisão em casa deve ter assistido a pelo menos um pedaço dessa clássica história em que o "amor" desabrocha entre Edward, um quarentão milionário, e Vivian, uma prostituta que ele pega "sem querer" (aham).
Este é um excelente filme para analisar o conflito entre os modelos de masculinidade representados pelos capitalismos de produção e de consumo, ou então para entender como o amor romântico é transformado em um produto por meio de rituais consumistas, mas honestamente – hoje não estou a fim de fazer nenhuma dessas coisas.
Hoje eu só gostaria de rir desse filme, porque ele é um daqueles que é tão ruim que acaba ficando bom, e porque a Julia Roberts é um anjo que foi enviado diretamente para cá para tornar a vida dos outros seres humanos mais tolerável.
Me acompanhem, por favor.
Uma linda mulher já começa com um momento Prazer, sou a ex do seu atual. A namorada do Edward, Jessica, termina com ele por telefone, no meio de uma festa. Eu gostaria de ter prestado mais atenção nessa cena antes, porque essa frase define muito bem TODOS os comportamentos que Edward terá ao longo da história, como veremos logo em seguida.
Aqui o Edward decide que precisa ir embora da festa e simplesmente PEGA O CARRO DO ADVOGADO dele em vez de chamar um táxi como uma pessoa normal – confirmando a percepção da ex-namorada. Se todo mundo tivesse ouvido a Jessica esse filme nem teria existido, o que me faz pensar sobre como não damos voz suficiente para as ex-namoradas reais e ficcionais que existem por aí.
Agora vamos conhecer Vivian (Julia Roberts), mas antes precisamos ser apresentados à bunda dela.
Na verdade, precisamos que a câmera deslize lentamente pelo corpo semi-nu dela até descobrirmos que ela tem um rosto.
Mocinha e mocinho se encontram quando Edward – que além de inconveniente, é um péssimo motorista –, se perde e acaba pedindo ajuda para Vivian. Originalmente ele não tinha "segundas intenções", mas acaba decidindo levá-la pro quarto dele no hotel.
Eu adoro como os roteiristas esperam que eu acredite nisso: um homem que trata os outros como servos à disposição dele e usa dinheiro para controlá-los vai "acidentalmente" contratar uma prostituta como um "deslize do momento".
Ok, Edward, são 20 minutos de filme e todo mundo já entendeu que você é MUITO rico, não precisa pontuar isso a cada frase que sai da sua boca.
Mas ao chegar no hotel ele decide que não quer partir pros finalmente tão cedo e prefere "conversar". Olhem para o rosto da Vivian. Este é o rosto de uma mulher que está pensando: "NÃO SÓ VOU TER QUE DAR PARA ESSE IMBECIL MAS TAMBÉM TEREI QUE FINGIR QUE ME INTERESSO PELO QUE ELE TEM A DIZER". Clássico.
Este é um momento em que teria sido muito valioso a Vivien ter assistido a A arte de pedir. Ela deve ser a única prostituta do mundo que consegue um cliente milionário e cobra apenas TREZENTOS DÓLARES pela noite toda. Miga, ele usa notas de cem dólares para assoar o nariz. Eu também gostaria de entender o cálculo por trás dessa soma, já que ela cobra cem por hora e uma noite inteira são no mínimo umas cinco horas de programa.
Ok, preciso falar que eu amo esta mulher e ela é a razão pela qual eu consigo assistir duas horas seguidas de Richard Gere sendo rico, grisalho e condescendente. Além do fato de eu ter um péssimo gosto para filmes.
No dia seguinte, eles vão tomar café da manhã e é óbvio que o Edward pediu tudo que tinha no menu – perguntar o que uma pessoa gosta de comer é se esforçar demais em uma interação social para ele. A este ponto do filme já ficou bem claro que as únicas qualidades que o Edward tem a oferecer é ter o rosto do Richard Gere e ser podre de rico.
(Boa parte dos programas românticos nesse filme obviamente envolvem uma pilha de dinheiro, como compras em lojas de luxo, viajar de helicóptero, assistir à ópera, alugar um colar de diamantes etc, etc. É essa a tal da comodização do amor romântico – o amor se manifesta como um ideal que depende de poder aquisitivo e de rituais de consumo para ser alcançado. Mas estou divagando.)
Uma pequena introdução ao capitalismo financeiro. VAGA: Dono de empresa. FUNÇÃO: Ganhar dinheiro. Basicamente, Edward compra empresas que estão falindo e depois as vende em parte menores. Descobrimos que essa semana ele vai comprar uma empresa por UM BILHÃO, e a cada minuto que passa mais me ressinto pelos trezentos dólares.
AHÁ!!!!! Aí está a prova de que esta não é uma exceção ao caráter de Edward e sim ele realizando o grande sonho de comprar uma mulher para serví-lo. Eu me sinto muito feliz pela Jessica por ter terminado esse relacionamento, e esse filme seria muito melhor se fosse sobre a Jessica e a Vivian se conhecendo e formando um vínculo emocional a partir do homem que as explorou sexualmente.
Edward decide que quer passar cinco dias inteiros com a Vivian. Novamente ela subestima o poder de compra dele e este demônio de homem ainda tem a cara de pau de barganhar pelo preço. O programa acaba sendo fechado por três mil dólares, a mesma quantia que Edward deve gastar numa só noite jantando num restaurante, jogando golfe ou fazendo essas coisas que milionários fazem.
Não seria um filme de garota-pobre-se-apaixona-por-cara-rico sem uma cena estilo My Fair Lady em que somos introduzidos ao universo das regras de etiqueta e todas as minúcias sobre qual garfo usar com o quê. Por que o ser humano se deu o trabalho não só de inventar tantos tipos de garfos diferentes como também de criar regras sobre como usá-los?
Agora vemos um momento de formação de laços emocionais entre Edward e Vivian, quando ele percebe o quanto os dois têm em comum. Exceto que a) Vivian é uma mulher pobre que não chegou a terminar o ensino fundamental e é explorada sexualmente para conseguir sobreviver e b) Ele é um cara milionário que usa do seu poder financeiro para conseguir tudo o que quer. Então não, acho que essa analogia não funcionou muito bem.
Essa também é uma cena em que supostamente deveríamos empatizar com a dificuldade que Edward está tendo em comprar a empresa mencionada antes, o que seria um subplot interessante se eu CONSEGUISSE ME IMPORTAR COM ELE.
Edward leva sua arrogância a um novo nível ao pedir para os funcionários do hotel que estavam TRABALHANDO para saírem do salão para ele poder transar com a Vivian em cima do piano. Basicamente o objetivo de vida de Edward é transformar o mundo no seu próprio filme pornô particular.
Eu fico com pena da Vivian nessa cena. Considerando que ela está sendo paga apenas 3 mil dólares para tolerar o milionário mais chato inventado pela ficção e fazer compras é o único consolo que ela tem, poderiam ao menos ter arranjado umas roupas menos horripilantes para ela vestir. Eu também não entendo como nós deveríamos achar essas roupas melhores do que esse look excelente que ela usava antes.
Muito melhor.
Aqui está Edward com um senador, ambos singelamente cometendo o crime de abuso de informação privilegiada (insider trading) diante dos nossos olhos, como se não fosse nada demais.
Parece que os roteiristas tiveram a ideia para Uma linda mulher pensando como seria se alguém tipo o Joesley Batista, da JBS, fosse o herói de uma comédia romântica. Se esse subplot virasse um escândalo de corrupção à la Lava Jato, talvez eu me interessasse mais.
É meio triste como uma comédia romântica dos anos 1990 consegue (em alguns momentos) ter uma visão mais realista de como de fato é uma interação entre cliente e prostituta do que discursos pretensamente feministas – como quando "Meu corpo, minhas regras" é utilizado para justificar exploração sexual.
Vivian ficou brava (com razão!) quando Edward contou para o advogado dele que ela era uma prostituta e automaticamente Edward entra no modo EU QUE ESTOU PAGANDO.
Agora eles infelizmente fizeram as pazes. Vivian vai ensiná-lo a aproveitar as coisas pequenas da vida com um piquenique no parque, enquanto Edward vai iluminá-la com uma leitura edificante como… um livro de FRASES DE SHAKESPEARE. Então eles estão basicamente lendo uma versão impressa e encadernada do site Pensador porque Edward é uma pessoa ocupada demais para ler as peças originais. Aposto que ele também tem Nietzsche para estressados na prateleira.
Bom, não seria uma comédia romântica se uma pessoa não dissesse "Eu te amo" para outra mesmo tendo conhecido ela há quatro dias e meio.
Os cinco dias acabaram e Edward propõe que Vivian vire a acompanhante de luxo oficial dele, com apartamento, carro e roupas de marca garantidas, sem atender outros clientes. Ela recusa porque quer "mais" (ou seja, um relacionamento sério) e ele responde com essa pérola aí em cima.
Estou confusa. Em que parte ele não tratou Vivian como uma prostituta?
a) Quando ele pagou para fazer sexo com ela?
b) Quando ele contou para o advogado dele que ela era uma prostituta?
d) Quando ele ficou bravo pela Vivian ter se chateado com isso porque, bem, ela é de fato uma prostituta e não deveria se sentir mal quando as pessoas apontam isso?
c) Ou quando ele ofereceu bancar um apartamento para poder fazer sexo com ela por tempo indeterminado?
Mistério.
Agora vamos testemunhar a transformação que Vivian trouxe para a vida de Edward. Em vez de decidir vender a empresa falida ele vai ajudar a recuperá-la, e após fazer essa transação bilionária ele vai andar descalço na grama para demonstrar como ele se tornou um homem "simples".
Comédia romântica clássica: o advogado de Edward tenta estuprar Vivian após descobrir que Edward desistiu de vender a empresa, e aí Edward a salva. Comédias românticas adoram colocar um coadjuvante masculino mais agressivo e ameaçador para fazer o mocinho parecer mais gente boa em comparação. Tipo: "Tudo bem eu ser condescendente com você, te tratar como se fosse minha filha de 5 anos de idade e te humilhar, pelo menos eu não tentei de estuprar, né?".
Edward sabe do que uma garota precisa: ouvir esse tipo de besteira logo após apanhar e sofrer uma tentativa de estupro.
Vivian vai embora ao som de It Must Have Been Love. O filme poderia muito bem acabar aqui...
.... Mas Edward decide aparecer na casa dela com um buquê de flores e uma limunise tocando ópera no último volume numa cena que é excruciantemente longa demais.
Eu amo essa moral da história. Provavelmente seu sonho não vai se realizar porque os filmes que os alimentam são completamente irrealistas e baseados num conceito esdrúxulo de meritocracia, mas ei, continue engordando a nossa bilheteria! ✨
Leia mais absurdos hollywoodianos em Se apaixone como em uma comédia romântica, no blog Vamos para Vênus, e Por que nós queremos Christian Grey?, no Medium. Ou aprenda a socializar com espécimes do sexo masculino em Manual prático para conversar com homens.
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